terça-feira, 13 de maio de 2014

Cerca de oito mulheres sofrem aborto por dia em Sergipe, diz SES

13/05/2014 18h13 - Atualizado em 13/05/2014 18h23


PNA aponta que 60% das brasileiras praticam o aborto entre 18 e 29 anos.
Projeto com adolescente pode diminuir os números.


A experiência de um aborto aos 21 anos não foi uma decisão tranquila para a estudante universitária que só não se identifica porque a prática ainda é crime no Brasil. Sem emprego, na época, ela lembra que a falta de uma estrutura financeira foi o principal motivo para não aceitar a maternidade.

“Sempre tomei anticoncepcional. Foi o processo mais doloroso que passei, desde a descoberta da gravidez até o ato de abortar”, confessa a estudante criada em igreja evangélica desde pequena.
Ela se encaixa nos 60% das brasileiras que praticam o aborto entre os 18 e 29 anos, como mostram os dados da Pesquisa Nacional do Abortamento (PNA).  Somente em Sergipe, a média do ano passado foi de oito mulheres internadas por dia por praticar o aborto, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde.
Um número alarmante que a deputada estadual , Ana Lúcia, acredita que caminha junto com a deficiência na educação do país. “Falta educação, informação. É um assunto de saúde, mas acaba sendo vinculado apenas para a religião”, critica Ana Lúcia.
A deputada também não enxerga possibilidades do tema ser visto com um novo olhar mesmo com uma mulher na presidência. “Nenhum governo vai abraçar essa causa. É polêmico. E sempre será levado para o lado religioso”, conclui.
Obstáculos na Educação Sexual
A mesma dificuldade é percebida por quem tenta criar projetos para a orientação sexual nas escolas. “É o principal espaço para a articulação de políticas voltadas para o publico adolescente. Mas seria necessário também a participação ativa dos familiares e da igreja, já que também acompanham a formação dessas pessoas”, observa  o coordenador do Programa Saúde na Escola da Secretaria de Estado da educação (Seed), Roosevelt Costa.
“É comum mobilizar eventos, discussões e convocar toda a comunidade, mas somente 5% comparecem. Conversar sobre o assunto não seria liberar de maneira irresponsável, mas trazer orientação sobre a vida sexual dos jovens”, critica Roosevelt.
A adolescente de 16 anos que mora na Zona Norte de Aracaju conheceu o primeiro namorado com 15 anos. E pouco tempo depois iniciaram a vida sexual. “Em seis meses percebi meu corpo diferente falei para minhas amigas e percebi que estava grávida”, lembra a garota.
Ela conta que o namorado não aceitou a gravidez e sugeriu o aborto. “A minha família só ficou sabendo porque desmaiei na escola e precisei de socorro médico”, detalha.
Dos nove estados do Nordeste, Sergipe está em quinto lugar em relação ao número de internações e com diagnóstico de aborto, com mais de 5 mil casos. Na frente da Paraíba que possui o dobro da população do estado sergipano.
No Brasil, o aborto é considerado crime, com duas exceções: em caso de risco de vida para a mulher e em caso de estupro. Os únicos países a legalizar a interrupção da gravidez foi Holanda, Espanha e Alemanha. O Uruguai também entrou para esse grupo em outubro de 2012. O que levou a uma diminuição nos números de interrupções de gravidez, de 33 mil por ano para 4 mil.
O país também implantou políticas públicas de educação sexual e reprodutiva, planejamento familiar e uso de métodos anticoncepcionais, assim como serviços de atendimento integral de saúde sexual e reprodutiva.
Alternativas Tímidas
Com a proposta de diminuir os números de aborto e gravidez entre garotas de 13 e 18 anos, o diretor da Maternidade Santa Izabel em Aracaju e ginecologista, Luís Eduardo Prado Correia se reuniu com a Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju em janeiro deste ano e solicitou ampolas de Depo-provera, um anticoncepcional que precisa ser aplicado apenas de três em três meses e custa em média, cada aplicação, R$15.
O projeto sugerido por Luís já é uma realidade em São Paulo e integra o planejamento familiar. “São pacientes que retornam grávida um ano depois mesmo tendo passado por um aborto. Elas alegam não ter tempo para ir a um posto de saúde. Talvez aplicando uma medicação com efeito de 90 dias seja possível enxergar resultados positivos”, analisa Luís.
Em Aracaju ele já fez o teste em oito garotas. “Mas um número pequeno, chega a ser o que atendo em apenas três dias”, disse.
A Secretaria de Saúde de Aracaju informou que precisa receber um ofício do autor do projeto solicitando a medicação, mas até o fechamento da matéria a equipe não respondeu se o diretor havia enviado o documento
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