terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Igreja espanhola celebra revisão da lei do aborto, sociedade critica


Milhares participam em homilia em defesa da família na praça Colón de Madrid.



Milhares de católicos espanhóis que participaram numa missa em celebração da Sagrada Família, na praça Colón de Madrid, deram graças pelo anteprojecto de revisão da lei do aborto aprovado pelo Governo espanhol, e que prevê a limitação do direito à interrupção da gravidez apenas aos casos de violação ou de risco para a saúde física ou psíquica da mulher.
“Nem sequer o dom da vida se entende como definitivo ou inviolável”, frisou o cardeal arcebispo de Madrid, Antonio María Rouco Varela, que dirigiu a homilia e evitou referir-se explicitamente à proposta de lei apresentada pelo ministro da Justiça, Alberto-Luiz Gallardón, que está a gerar enorme polémica e a dominar o debate público em Espanha.
O cardeal preferiu destacar a necessidade de defender a família cristã face à “cultura de tristeza” e de “transitoriedade” em que alegadamente vive a sociedade espanhola, e apelar à resistência dos fiéis contra a “sufocante atmosfera intelectual e mediática”.
Para Ignácio Gonzales, um agente comercial de 49 anos que viajou de Murcia com a mulher e os seus filhos para participar na missa, a “defesa da família faz-se com a abolição da lei: a revisão é insuficiente porque continua a permitir-se a realização de abortos em certas circunstâncias”, explicou à AFP. “O aborto é um crime e como tal tem de ser ilegal”, concordava Maria Cardador, de 82 anos, residente em Córdova.
A revisão legislativa, que foi uma das promessas eleitorais do líder do Partido Popular, Mariano Rajoy, agora no poder, reverte a actual norma que possibilita a interrupção da gravidez até às 14 semanas (ou às 22, quando se verifica alguma malformação no feto), e estabelece que o aborto apenas será autorizado quando é “necessário por causa de um grave perigo de vida ou da saúde física e psicológica da mulher” ou quando a gravidez tenha resultado de “um delito contra a liberdade ou integridade sexual da mulher”.
Saúde mental e juízos morais
As mulheres cujos casos individuais preencham estes critérios terão de enfrentar um complicado processo administrativo, que começa com a confirmação da gravidez por um ginecologista e a manifestação da intenção de abortar. O médico é então obrigado a referir o caso para um psiquiatra, a quem cabe a responsabilidade de diagnosticar se a gravidez representa um “risco importante” e para a saúde da mãe (se essa for a razão invocada para a interrupção da gravidez).
No entanto, esse certificado não será suficiente para que a mulher possa avançar com o procedimento. O diagnóstico terá de ser confirmado por uma segunda opinião – e se esta for diferente, a mulher terá de se submeter a nova consulta, para que o diagnóstico seja confirmado por pelo menos dois profissionais de saúde mental. Quando tal suceder, a mulher receberá um atestado médico relativo à sua saúde psíquica.
Numa nota assinada pela presidente da Associação Espanhola de Neuropsiquiatria, Eudoxia Gay, estes médicos contestam o papel que o Governo lhes pretende reservar. “A interrupção da gravidez é uma questão que fica no âmbito da saúde sexual e reprodutiva. Uma mulher que aborta não é uma doente mental. Não cabe aos médicos psiquiátricas fazer juízos morais ”, diz.
Em declarações ao jornal El País em nome individual, também o presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria, Miguel Gutiérrez, manifestou preocupação com o que descreveu como uma “eventual instrumentalização da psiquiatria” e lamentou que o colégio de médicos não tenha sido consultado durante toda a fase de elaboração do projecto de lei, “apesar de esta lhes adjudicar um papel tão importante”.
Quando estiver munida dos atestados médicos, a mulher desloca-se então aos serviços da Segurança Social, para uma consulta que incluirá informação jurídica (nomeadamente de que “a vida do não-nascido constitui um bem jurídico protegido pela Constituição”) e orientações para a resolução dos “problemas e conflitos pessoais” que tenham sido alegados como a causa da sua decisão. Na mesma consulta, a mulher terá de ser alertada para as alternativas ao aborto – desde a custódia administrativa da criança à adopção.
Cumprida mais essa etapa, a mulher obtém um novo certificado. A partir dessa data entra em vigor um período de reflexão obrigatório de sete dias, ao fim dos quais terá de confirmar em definitivo a vontade de pôr termo à gravidez. “É um retrocesso de 30 anos”, criticou a número dois do Partido Socialista Espanhol, que apelou à mobilização contra a nova lei.
Apesar de ter sido aprovado em conselho de ministros, o anteprojecto legislativo já foi posto em causa por vários dirigentes conservadores, ainda terá de ultrapassar vários trâmites parlamentares. Mas em princípio a maioria do Partido Popular será suficiente para garantir a sua votação.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Aborto em Espanha: o galardão franquista

Por Ana Sá Lopes publicado em 26 Dez 2013 - 05:00
A nova lei do aborto faz recuar Espanha a um país só mais ou menos europeu
Estamos a assistir ao regresso às trevas aqui ao lado, em Espanha. A lei do aborto da autoria do ministro da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón, faz voltar a legislação do país sobre interrupção voluntária da gravidez aos tempos soturnos do franquismo. O aborto passa a ser proibido - com a excepção do caso da violação e do "grave risco" para a saúde física e psíquica da mãe. Mas este "grave risco para a saúde física e psíquica da mãe" será avaliado por médicos e não podem ser os mesmos que vão praticar o aborto. Nem sequer as malformações fetais - inscritas há 30 anos na lei em Espanha - são agora motivo legal para interromper uma gravidez. A menos que algum médico se responsabilize pela prova de que a malformação vai conduzir a um "grave risco psíquico" para a mãe. Acresce que este "grave risco" vai ser muito mais difícil de provar e está sujeito a muito mais obrigações legais do que acontecia na lei aprovada em 1985. Por exemplo, o médico que avalia o "grave risco psíquico" não poderá ser nunca o médico que pratica o aborto - e os dois não poderão trabalhar no mesmo sítio. Uma declaração de guerra às mulheres e às clínicas onde, mesmo com a lei de 1985, a realização de abortos era comum e nunca penalizada.
Numa particular e hipócrita definição do que é um crime, a lei de Gallardón absolve sempre a mulher. Ou seja, só os médicos que praticarem o aborto estão sujeitos a três anos de prisão. As mulheres não terão qualquer pena. Como lei a inscrever num Código Penal é demasiado estúpida - a absolvição da principal mandante (a mulher que decide abortar) transforma isto numa paródia criminal. Gallardón julga que com isto trava a maior oposição à lei: o choque de ver mulheres presas por terem cometido o crime do aborto. A estratégia imbecil, que reduz a mulher que aborta a uma "coitadinha inimputável", ainda torna tudo mais hipócrita.
Em Portugal conhecemos perfeitamente as consequências da lei que faz retroceder Espanha a um país só mais ou menos europeu: proliferação do aborto clandestino, com todos os riscos que lhe estão associados para a saúde da mulher. Em tempo de crise, o aborto clandestino tenderá a deslocar-se das clínicas com mais condições para as marquises de algumas parteiras. Rajoy não tem nada a dar aos espanhóis a não ser crise, lixo e desemprego. Desencantou uma nova lei do aborto para alegrar sectores minoritários do seu partido. É uma vergonha inominável.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Veja os principais desafios da mulher desde o nascimento

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Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus
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porque para isso é que eu fui enviado. (Lc 4,43)

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“REZEM O TERÇO, TODOS OS DIAS”

domingo, 22 de dezembro de 2013

Oposição promete parar a lei do aborto do PP

Publicado ontem

MARIA JOÃO MORAIS, CORRESPONDENTE EM MADRID
 
 
foto JAVIER SORIANO/AFP
Oposição promete parar a lei do aborto do PP
Protestos nas ruas de Madrid contra a nova lei
 
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O Partido Socialista espanhol comprometeu-se este sábado a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para "parar" o projeto de lei do governo de Mariano Rajoy que converte o aborto num delito.
Segundo Elena Valenciano, vice secretária-geral do PSOE, a reforma apresentada esta sexta-feira pelo ministro da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón, choca contra a liberdade das mulheres, obrigando-as a "voltar à clandestinidade e ao medo". Em suma, Espanha "retrocede mais de 30 anos", concluiu a socialista.
A nova normativa, que elimina a possibilidade de abortar em casos de malformação do feto, motivou também a indignação popular, gerando protestos em cidades como Madrid, Barcelona ou Málaga.
A rejeição à nova lei do aborto do PP estende-se também ao governo autonómico da Andaluzia, que anunciou "ter em estudo" a apresentação de um recurso nos tribunais contra a reforma, por esta "limitar" os direitos dos cidadãos".

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O país onde as mulheres podem ser presas por ter aborto espontâneo

Nina Lakhani

Atualizado em  21 de outubro, 2013 - 13:34 (Brasília) 15:34 GMT
El Salvador tem uma das mais duras leis antiaborto do mundo. E uma consequência disso é que mulheres que sofrem abortos espontâneos se tornam, às vezes, suspeitas de terem induzido um aborto - e podem até ser presas por assassinato.
Glenda Xiomara Cruz estava com muita dor abdominal e um forte sangramento nas primeiras horas do dia 30 de outubro de 2012. A jovem de 19 anos, de Puerto El Triunfo, no leste do país, foi para o hospital público mais próximo, onde os médicos disseram que ela havia perdido o bebê.
Foi a primeira vez que ela ficou sabendo sobre a gravidez, já que seu peso estava praticamente inalterado e o resultado de um teste de gravidez feito em maio daquele ano foi negativo.
Quatro dias depois, ela foi acusada por homicídio doloso, sob a acusação de ter assassinado intencionalmente o feto que tinha entre 38 e 42 semanas. O hospital a havia denunciado à polícia por suspeita de aborto.
Depois de duas operações de emergência e três semanas no hospital, ela foi transferida para a prisão feminina Ilopango, na periferia da capital, San Salvador.
No mês passado, depois de o juiz decidir que ela deveria ter salvado a vida do bebê, Xiomara foi condenada a dez anos de prisão.

'Terrível injustiça'

Seu advogado, Dennis Muñoz Estanley, diz que existe um "pressuposto de culpa" embutido no sistema jurídico, o que torna difícil para as mulheres provarem sua inocência.
"Ela é mais uma vítima inocente do nosso sistema legal injusto e discriminatório, que prende essas pobres jovens mulheres que sofrem complicações obstétricas, com base em provas muito fracas", diz ele.
Maria Teresa na prisão. Foto: Nina Lakhani
Maria Teresa Rivera está servindo uma pena de 40 anos na prisão Ilopango
O pai de Xiomara descreve a sentença como uma "terrível injustiça".
Ele testemunhou no tribunal que sua filha tinha sofrido anos de violência doméstica nas mãos de seu parceiro. E ainda assim a acusação - que buscava uma pena de 50 anos de prisão - se baseou fortemente em alegações de que ela tinha matado intencionalmente o feto.
Xiomara não vê sua filha de quatro anos desde que sofreu o aborto espontâneo.
El Salvador é um dos cinco países com proibição total do aborto, juntamente com Nicarágua, Chile, Honduras e República Dominicana. Desde 1998 a lei não permite exceções - mesmo se uma mulher for estuprada, se sua vida estiver em risco, ou se o feto estiver severamente mal formado.
Mais de 200 mulheres foram denunciadas à polícia entre 2000 e 2011, das quais 129 foram julgadas e 49 condenadas - 26 por homicídio (com penas de 12 a 35 anos) e 23 por aborto, de acordo com uma pesquisa do Grupo de Cidadãos para a Descriminalização do Aborto. Mais sete foram condenadas desde 2012.
O estudo ressalta que estas mulheres são extremamente pobres, solteiras e sem muita instrução - e elas geralmente são denunciadas por funcionários de hospitais públicos. Nem um único processo criminal começou no setor privado de saúde, onde acredita-se que milhares de abortos acontecem anualmente.
Muñoz já trabalhou com 29 das mulheres encarceradas, ajudando a garantir a rápida libertação de oito. "Apenas uma dela induziu o aborto intencionalmente, as outras 28 sofreram complicações espontâneas, mas foram presas por assassinato sem qualquer evidência direta", diz ele.

Homicídio doloso

No ano passado, quando Maria Teresa Rivera sofreu um aborto espontâneo, ela foi condenada a 40 anos de prisão por homicídio doloso.
Como Xiomara, Teresa, de 28 anos, não teve sintomas de gravidez até sentir uma dor súbita e um sangramento, e foi denunciada à polícia pelo hospital público onde ela procurou ajuda.
Cristina e sua avó Foto: Newsteammsg
Cristina Quintanilla foi condenada a 30 anos de prisão
As evidências científicas para sustentar uma condenação eram fracas, de acordo com Muñoz, que irá em breve apresentar um recurso, e a acusação se baseou fortemente no testemunho de uma amiga dela que disse que Teresa teria dito que "poderia estar" grávida 11 meses antes do aborto acontecer.
Teresa trabalhava em uma fábrica têxtil, o único ganha-pão de sua família, e seu filho de oito anos agora vive com a avó em extrema pobreza.
A história de Cristina Quintanilla é diferente. No dia 24 de outubro de 2004, a jovem de 18 anos, da zona rural de San Miguel, estava grávida de sete meses de seu segundo filho e morando com sua mãe na capital para ficar mais perto de um hospital.
O namorado dela estava trabalhando nos Estados Unidos, mas o casal estava animado com a chegada do futuro filho, comprando roupas de bebê.
"Por volta de meia-noite eu senti uma dor imensa, eu pensei que estava morrendo", disse Quintanilla.
"Eu estava batendo na porta do banheiro para chamar a atenção da minha mãe quando senti o bebê sair. Depois disso eu só lembro de acordar no hospital."
Sua mãe chamou a polícia, uma atitude normal dos salvadorenhos em casos de emergência, e foi levada para o hospital.
Quintanilla tomou um anestésico, e quando acordou foi interrogada. Em seguida, ela foi algemada à cama do hospital, acusada de homicídio, e transferida para a delegacia.
O primeiro juiz abandonou o processo, mas o Ministério Público recorreu, elevando a acusação para homicídio doloso.

Medo

Quintanilla foi considerada culpada, condenada a 30 anos de prisão, e difamada como assassina de crianças. Seu filho Daniel, na época com apenas 4 anos, passou quatro anos vivendo com sua bisavó, até que Muñoz conseguiu reduzir a pena para três anos.
"Os relatórios médicos não podem explicar por que o bebê morreu, mas o promotor me considerou uma criminosa que poderia ter salvo o meu bebê, mesmo tendo desmaiado de dor", diz ela.
"Eu nunca vou entender por que eles fizeram isso comigo, eu perdi quatro anos da minha vida e ainda não sei porque eu perdi o meu bebê."
Morena Herrera, da Associação de Cidadãos para a Descriminalização do Aborto, diz que esses casos tiveram um efeito inibidor, fazendo com muitas mulheres pobres grávidas que sofreram abortos espontâneos, ou complicações durante a gravidez, tivessem "muito medo de procurar ajuda médica".
"Eu ficaria com medo de ir a um hospital público, já que mulheres jovens são sempre consideradas culpadas e presas", diz Bessy Ramirez, 27 anos, de San Salvador.
"Nós não podemos nem contar com o pessoal de saúde para colocar seus preconceitos de lado e nos tratarem de forma confidencial."
Cartaz de campanha da Anistia Internacional (crédito: AFP)
Caso de Beatriz mobilizou ativistas da ONG Anistia Internacional
A severa lei do aborto tem outras implicações graves em relação a direitos humanos.
O suicídio foi a causa mais comum de morte em 2011 entre meninas e adolescentes de 10 a 19 anos, metade dos quais estavam grávidas, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Essa foi também a terceira causa mais comum de mortalidade materna.

'Cruel e discriminatória'

No início deste ano, o caso de Beatriz, de 22 anos e que sofre de lúpus, atraiu atenção internacional depois que a Suprema Corte se recusou a autorizar um aborto, mesmo que sua vida estivesse em risco e que o feto estivesse mal formado, sem a possibilidade de sobreviver.
A saúde de Beatriz deteriorou enquanto o tribunal discutia o caso por vários meses. O bebê nasceu com 27 semanas, e morreu em poucas horas.
Membros do atual governo FMNL (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), particularmente a ministra da Saúde, Maria Isabel Rodriguez, criticaram duramente a lei do aborto durante a polêmica sobre o caso de Beatriz. Mas o governo não fez nenhuma tentativa de revogar ou relaxar a lei desde que entrou em vigor em 2009, e continua a ser popular entre grande parte da população conservadora, que reverencia a Igreja, e os grupos religiosos pró-vida, como o Si a la Vida (“Sim à Vida”, em espanhol).
O partido Arena, que é fortemente aliado à Igreja, é o favorito para ganhar as eleições gerais do ano que vem.
Mas Esther Major, especialista da Anistia Internacional em El Salvador, descreve a lei do aborto no país como "cruel e discriminatória".
"Mulheres e meninas acabam na prisão por não estarem dispostas ou, simplesmente, serem incapazes, de levar a gravidez ao fim”, diz ela.
"Isso faz a busca por tratamento hospitalar por conta de complicações durante a gravidez, incluindo um aborto espontâneo, uma loteria perigosa.”
"Não pode ser do interesse da sociedade criminalizar mulheres e meninas dessa maneira", concluiu Major.

Governo de Rajoy aprova nova lei que restringe o aborto em Espanha

Projecto dos populares prevê uma autorização de aborto em casos muito precisos. Oposição denuncia um "retrocesso de 30 anos".
Activistas pró-aborto prometem lutar contra a nova lei ELOY ALONSO/REUTERS
Cumprindo uma promessa eleitoral de 2011, o Governo conservador de Mariano Rajoy aprovou esta sexta-feira um projecto-lei que limita fortemente o aborto em Espanha. Feministas e a esquerda, em uníssono, denunciaram “um retrocesso de 30 anos”.
O texto agora aprovado anula de facto a lei de 2010 que autoriza o aborto até às 14 semanas e até às 22 semanas em caso de malformação do feto, uma lei que foi, juntamente com a legalização do casamento homossexual, uma das reformas de marca do então Governo socialista de Rodriguez Zapatero.
O projecto-lei do Governo do Partido Popular é muito semelhante à lei que entrou em vigor em 1985 e prevê uma autorização de aborto em casos muito precisos: que o aborto seja “necessário por causa de um grave perigo de vida ou da saúde física ou psicológica da mulher, ou que a gravidez tenha sido consequência de um delito contra a liberdade ou integridade sexual da mulher”, explicou o ministro da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardon, à saída do conselho de ministros.
Em caso de violação, será necessário que a mulher tenha apresentado antes uma queixa. E será necessário o relatório de dois médicos para que a malformação do feto possa ser invocada como razão para uma interrupção voluntária da gravidez, disse o ministro. O texto impõe ainda uma autorização parental para as menores.
As associações feministas e os partidos de esquerda já apelaram à mobilização contra a nova lei, sabendo que o projecto de lei poderá ser votado em breve no Parlamento, onde o Partido Popular dispõe da maioria absoluta.
Elena Valenciano, número dois do Partido Socialista espanhol, convocou uma reunião de urgência do comité da direcção do partido para segunda-feira. “Não vamos retroceder 30 anos, e sobretudo não nos vamos resignar, desistir ou deixar que nos intimidem”, disse, citada pela AFP. Para ela, Mariano Rajoy cedeu “à ala dura do seu partido e à Conferência Episcopal”.
“As leis restritivas não reduzem o número de abortos. Essas leis apenas levam as que as mulheres com menos recursos financeiros interrompam as suas gravidezes em condições pouco seguras, colocando as suas vidas em perigo”, alertou a associação Médicos do Mundo.
Luis Enrique Sanchez, presidente da Federação de Planeamento Familiar, prevê o regresso das clínicas clandestinas e das "viagens de mulheres espanholas a França e Inglaterra para abortarem".