quarta-feira, 29 de outubro de 2014

'Comi grama e insetos para sobreviver', diz norte-coreana que fugiu do país

Credito: BBC

Park hoje viaja o mundo contato experiência em país de origem
Aos 21 anos de idade, Yeomni Park diz ter se sentido muito perto da morte em sua Coreia do Norte natal.
Ela disse à BBC que testemunhou execuções sangrentas e teve de comer grama e insetos para sobreviver no país asiático.
Em 2007, quando Yeomni tinha 13 anos, sua família fugiu para a China em busca de uma vida melhor. Mas a mãe foi estuprada de forma brutal tentando proteger seus filhos, conta a jovem.
Ela agora vive na Coreia do Sul e viaja ao redor do mundo com a missão de sensibilizar o público estrangeiro sobre a dura realidade norte-coreana. Dá entrevistas e usa as redes sociais para espalhar uma mensagem em defesa dos direitos humanos dos seus compatriotas.
Como parte do projeto #100Women, a jovem compartilhou algumas de suas dolorosas memórias de infância com a jornalista Lucy Kockings. A série de reportagens e debate virtual está sendo produzida pela BBC pelo segundo ano consecutivo.

Infância difícil

Yeonmi e sua família viviam em Hyesan, um porto fluvial na fronteira com a China, onde seu pai exercia um cargo de média hierarquia no governo.
Ela disse que na infância testemunhou muitas execuções – mas uma lhe tocou de forma especial.
"Era a mãe do meu melhor amigo, uma senhora muito amável que costumava me dar biscoitos, que me alimentava. Ela era muito simpática. Mataram não só ela, como outros sete jovens."
O episódio ocorreu quando Yeonmi tinha apenas nove anos de idade.
Credito: BBC
Família fugiu para China, mas sofrimento continuou
Descrevendo suas lembranças de forma gráfica e com sentimento, a jovem diz: "Eu vi espalhados restos humanos, cérebros ... Nunca me esquecerei dessas coisas."
Fugir da Coreia do Norte não foi uma opção para Yeonmi e sua família, e sim a única esperança de sobreviver à fome.
Além disso, em 2002, seu pai havia perdido os privilégios do governo e sido detido por "comércio ilegal" de produtos de contrabando que vendia para sustentar a família.
"Se ficássemos, morreríamos de fome. Tive que comer grama, libélulas e batatas congeladas", contou.
Em março de 2007, a família cruzou a fronteira com a ajuda de contrabandistas.

Esperanças traídas

Yeonmi diz que a China se provou um novo pesadelo. "Pensei que a China seria melhor, mas não: foi pior", afirma.
"Minha mãe foi estuprada na frente dos meus olhos. O agressor queria fazer sexo comigo e eu nem sequer sabia o que significava essa palavra. Ela se sacrificou por mim."
Apesar de suas experiências, Yeonmi não se considera uma pessoa especial. Explica que, como ser humano, não pode se esquecer daqueles deixados para trás.
"Como posso me sentir livre aqui, com tudo o que as pessoas estão vivendo no meu país? Vendem meninas da minha idade por US$ 200."
"O regime norte-coreano tortura seus cidadãos", afirma.
Mas apesar das experiências fortes, em sua mensagem há espaço para um certo otimismo.
"Eu acredito na humanidade. Sou muito otimista e acredito que vamos sair desse terror."
Entre os dias 27 e 29 de outubro, a BBC promove o debate "100 Women", que reúne 100 mulheres que tiveram destaque em suas áreas. O projeto traz uma série de reportagens mostrando a vida de diferentes mulheres pelo mundo. Participe do debate no Facebook e no Twitter usando a hashtag #100Women.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

'Me sentia suja' - o tabu de menstruar na Índia


Rupa Jhada
BBC News em Nova Déli, Índia
BBC
Mitos associam menstruação à impureza e maldição feminina
"Nunca vou deixar minha filha sofrer como eu sofro quando fico menstruada. Minha família me trata como uma intocável", diz a indiana Manju Baluni, de 32 anos.
"Eu não posso ir à cozinha, não posso entrar no templo, não posso sentar com os outros", afirma a mãe de uma menina de 9 anos, moradora de um vilarejo distante em Uttarakhand, um estado montanhoso no norte da Índia.
No país, há geralmente um silêncio em torno da questão da saúde das mulheres - especialmente em torno da menstruação. Um tabu arraigado alimenta a criação de um mito risível em torno da menstruação: mulheres ficam impuras, imundas, doentes e até mesmo amaldiçoadas durante este período.
As pessoas acreditam que as mulheres menstruadas não devem tomar banho e que ficam anêmicas.
Um estudo recente realizado por um fabricante de absorventes descobriu que 75% das mulheres que vivem em cidades ainda compram os produtos envoltos em embalagens marrons ou jornais por causa da vergonha associada à menstruação.
Elas também quase nunca pedem a um homem para comprar absorventes.
Cresci em uma casa cheia de mulheres, mas a gente nunca discutia abertamente um dos ritos de passagem mais naturais do mundo.
Minha mãe costumava cortar lençóis velhos e esconder os pedaços em uma caixa, pronta para ser usada por suas quatro filhas.
Credito: BBC
Mãe de uma menina de 9 anos, Manju diz que não deixará a menina sofrer por preconceito
O maior desafio era secar esses pedaços de pano. Tenho lembranças claras de me sentir tensa e preocupada com o processo.
Minhas irmãs me ensinaram o truque para manter aquelas tolhas manchadas sob outras roupas para que nenhum homem percebesse. Não podíamos arriscar colocá-las sob o sol para secar completamente.
O resultado era que elas nunca secavam completamente, deixando um fedor horrível. Essa toalha pouco higiênica era usada várias vezes.
A falta de água tornava o processo ainda mais difícil e pouco higiênico. E isso não mudou muito para a maioria das mulheres indianas.
Estudos recentes mostram que essa práticas constituem um perigoso risco para a saúde das mulheres.
Dados também mostram que uma em cada cinco garotas deixa a escola por causa da menstruação - são mais de 3 milhões de mulheres na Índia que deixaram as salas de aula.
Margdarshi, de 15 anos, ama ir à escola e nunca perde aulas - exceto no ano passado, quando ela quase desistiu de estudar após ficar menstruada pela primeira vez.
Indianas aprendem a esconder toalhas suja de menstruação de homens, conta Rupa Jha
"Me sinto envergonhada, brava e muito suja. Eu parei de ir à escola no início", conta. "Estou sendo com medo de que alguém perceba, que vaze", diz.
Ela quer ser médica e questiona por que os garotos da sua turma riem tanto na aula de biologia quando o professor explica a menstruação.
"Eu odeio isso. Queria que pudéssemos ser mais tranquilos e ficássemos confortáveis falando sobre isso. Todas as mulheres passam por isso, o que há de engraçado?"
Anshu Gupta, fundador da organização não governamental Goonj, acha que o problema é a questão ser tratada como um "assunto de mulher".
"Não é um problema de mulheres. É uma questão humana, mas acabamos isolando isso. Precisamos sair dessa cultura de vergonha e silêncio. Precisamos quebrar isso."
Tentando acabar com o silêncio em torno da questão, Goonj é um dos vários grupos que estão executando campanhas para educar as pessoas sobre a menstruação e os mitos em torno dela.
Ele funciona em 21 dos 30 Estados da Índia.
A organização também faz absorventes baratos a partir de panos reciclados para ajudar as 70% de mulheres indianas que não têm acesso a absorventes seguros e higiênicos.

Quebrando mitos

Outras iniciativas também estão tentando quebrar os tabus em torno da menstruação.
Credito: BBC
Diversos projetos usam panos reciclados para fazer absorventes
Menstrupedia, um site dirigido por quatro indianos, visa "estremecer os mitos e entendimentos que cercam a menstruação" e apresenta histórias em quadrinhos e guias simples sobre puberdade, menstruação e higiene. Ele recebe mais de 100 mil visitantes por mês.
Uma mulher que abandonou a escola no Estado indiano de Tamil Nadu foi uma dos primeiras a começar a fazer absorventes baratos usando máquinas simples.
Arunachalam Muruganatham diz que o absorvente tinha que "sair do armário".
É difícil ser uma mulher pobre na Índia, e isso não vai mudar tão cedo.
Mas, gradualmente, as mulheres começaram a assumir o controle de suas vidas. Muitas delas não ficam mais presas em casa durante a menstruação - eles podem optar por sair, trabalhar, ou continuar com seus estudos.
Mais importante, eles estão começando a falar sobre isso. Sem vergonha.
Entre os dias 27 e 29 de outubro, a BBC promove o debate "100 Women", que reúne 100 mulheres que tiveram destaque em suas áreas. O projeto traz uma série de reportagens mostrando a vida de diferentes mulheres pelo mundo. Participe do debate no Facebook e no Twitter usando a hashtag #100Women.

Outubro Rosa é promoção à saúde, diz médica rádio-oncologista


2014-10-28 Rádio Vaticana
 Erechim (RV)
A passagem do medo à superação da notícia (se é que ela existe), ganha uma dimensão de força e autoestima se vivenciada em meio ao carinho e amor dos familiares, da atenção sempre presente, do sentir-se querida quando o câncer de mama resolve bater à porta. O Outubro Rosa, enaltecido mundialmente para lembrar o diagnóstico precoce do tumor, motiva ações simultâneas da população quanto aos cuidados com a saúde da mulher para evitar que se chegue a essa fase de tratamento e também de angústia. A reportagem é de Andressa Collet. (Clique acima para ouvir.)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Irã enforca jovem que se dizia vítima de tentativa de estupro

Jabbari (AFP)

Para Justiça iraniana, Jabbari não conseguiu provar que agiu em legítima defesa.
O Irã enforcou uma jovem de 26 anos condenada por matar um homem que, na sua versão, teria tentado estuprá-la, apesar de uma campanha internacional ter pedido o cancelamento da execução.
De acordo com a agência de notícias estatal Tasnin, Reyhaneh Jabbari foi executada na manhã deste sábado depois que sua família não conseguiu obter o consentimento de parentes da vítima para livrá-la da forca.
Sua mãe, Shole Pakravan, confirmou a execução em entrevista ao serviço iraniano da BBC. Ela também disse que na sexta-feira foi autorizada pelo governo a visitar a filha por uma hora.
A execução da iraniana estava prevista para o mês passado, mas acredita-se que uma campanha feita nas redes sociais tenha levado ao seu adiamento.
Jabbari foi presa em 2007 e ficou em detenção solitária por dois meses, durante os quais teria sido impedida de contactar um advogado ou integrantes da sua família.
Ela havia sido condenada à morte em 2009.

O caso

A iraniana dizia que havia esfaqueado, pelas costas, Morteza Abdolali Sarbandi - ex-funcionário do Ministério de Inteligência do Irã - em legítima defesa, depois que ele tentou estuprá-la.
Também alegava que uma outra pessoa, que estava no local, havia matado Sarbandi. Mas segundo Jalal Sarbandi, filho do ex-funcionário do Ministério de Inteligência, a jovem teria se recusado a identificar essa pessoa.
A família de Sarbandi defende que o assassinato foi premeditado e, segundo a Justiça iraniana, Jabbari não conseguiu provar que agiu em legítima defesa.
A organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, porém, classificou a investigação do caso como "profundamente falha".
"Essa é mais uma mancha sangrenta no histórico dos direitos humanos no Irã", disse o vice-diretor para o Oriente Médio e o Norte da Àfrica da Anistia Internacional, Hassiba Hadj Sahraoui.
"Infelizmente, esse caso está longe de ser incomum. Mais uma vez o Irã insistiu em aplicar a pena de morte apesar de sérias dúvidas sobre se o julgamento foi justo."
Segundo a ONU, o Irã executou 250 pessoas neste ano.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141023_ira_forca_ru

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Jovem com 'síndrome da Bela Adormecida' dorme 22h por dia

Enquanto muitos de nós sonham com algumas horas extras de sono, para uma adolescente britânica essa ideia é motivo para pesadelos.

Durante os surtos da síndrome extremamente rara de que ela sofre - que podem durar semanas - Beth Goodier se mantém acordada por apenas algumas horas por dia.
A jovem de 20 anos, de Stockport, perto de Manchester, sofre da Síndrome de Kleine-Levin (SKL), também conhecida como a "síndrome da Bela Adormecida".
A condição afeta apenas 40 pessoas no Reino Unido, a maioria deles, meninos adolescentes. No mundo, os casos conhecidos somam em torno de mil.
Apesar do nome evocativo do conto de fadas, Beth disse ao programa de TV Inside Out, transmitido pela BBC na noite da segunda-feira, que viver com a síndrome é um fardo.
"Não é nada bonito, não é nada romântico, é horrível", afirmou.

Comportamento infantil

Os especialistas ainda não sabem apontar exatamente as causas da síndrome de Kleine-Levin, cujos sintomas tendem a aparecer na adolescência. No caso de Beth, aos 16 anos de idade.
Além dos episódios de sono prolongado, a condição tipicamente causa mudanças de comportamento e leva os pacientes a um estado quase onírico, agindo de maneira infantil e comendo compulsivamente.
A doença desaparece depois de dez a 15 anos. Mas durante esse período a vida tende a avançar lentamente para os que sofrem da síndrome, enquanto segue normalmente para todos os outros ao seu redor. O resultado pode ser uma forte sensação de isolamento.
Nos momentos em que está bem e ativa, Beth procura se ocupar blogando sobre a SKL e expressando-se em vídeos postados no YouTube.
"Quero poder fazer algo produtivo nos momentos em que estou bem", disse a jovem. "Quero ser produtiva para a sociedade".
BBC
'Nunca discutimos o que vamos fazer na semana que vem', diz a mãe. 'Fazemos agora.'
Beth depende quase inteiramente da mãe, Janine, que abandonou o trabalho para cuidar da filha.
Ela explica que os períodos de sono prolongado são apenas uma parte do problema. Quando está desperta neste período, a filha se comporta como uma criança e permanece confusa em relação ao que é sonho e o que é realidade.
"Quando ela está acordada, o que faz na verdade é ficar na cama ou no sofá", conta. "Ela assiste às mesmas coisas na TV repetidas vezes, porque gosta da previsibilidade."
Mãe e filha tentam aproveitar cada oportunidade entre os surtos da síndrome para fazer coisas juntas.
"Quando ela está bem, nunca discutimos o que vamos fazer na semana que vem", diz Janine. "Fazemos agora porque pode ser o único momento que conseguimos."
Por causa da síndrome, Beth não foi à universidade nem tem condições de sair da casa da mãe.
"Estou em uma idade em que adoraria sair de casa, porque estou pronta", conta. "Mas não posso, porque preciso do acompanhamento da minha mãe para os períodos em que estou doente. É muito frustrante."

Condição 'devastadora'

O especialista em neurologia Guy Leschziner, que acompanha Beth no Guy's Hospital, em Londres, diz que a síndrome é uma condição "devastadora" para jovens que já estão vulneráveis na época da vida em que aparecem os primeiros sintomas.
"Eles estão em um ponto crucial da sua educação, da sua vida social, da sua vida familiar e da sua vida profissional", observa Leschziner.
"É uma condição muito, muito devastadora nesse sentido, porque é imprevisível."
Segundo a organização KLS Support UK – que desde 2011 dá apoio aos portadores da síndrome, e leva em seu nome a sigla da síndrome em inglês – muitas vezes o diagnóstico da doença é retardado pela falta de conhecimento geral da população, e mesmo da classe médica, sobre o problema.
Beth espera que, falando sobre a sua própria condição, possa elevar a conscientização geral, ajudar os afetados e apoiar a pesquisa médica para entender melhor as causas e o tratamento da condição.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/videos_e_fotos/2014/10/141021_sind_bela_adorm_hb_pu

terça-feira, 21 de outubro de 2014

‘Colocar meus pais em asilo me assombrará para sempre’

Apresentadora Fiona Phillips / Crédito: Arquivo Pessoal

'Ter colocado meus pais em um asilo é algo que sempre irá me atormentar', disse a apresentadora
A apresentadora britânica Fiona Phillips reflete sobre a difícil decisão de colocar seus pais num asilo quando ambos foram diagnosticados com demência:
"Atualmente, mais de 433 mil pessoas vivem em asilos no Reino Unido. Isso significa, pelo que indica uma pesquisa, que centenas de milhares de parentes no país tiveram que tomar uma das decisões mais difíceis de suas vidas.
Segundo este estudo, optar por internar um pai ou uma mãe em um asilo é um dos momentos mais estressantes pelo qual alguém pode passar na vida, mais do que comprar uma casa ou mesmo se divorciar.
Colocar alguém que amamos sob os cuidados de estranhos é como dizer "desisto" ou "não posso cuidar de você". Ao menos, é como alguém se sente quando sai porta afora e deixa para trás o marido que ama e com quem viveu por décadas, ou a mãe que criou você com muito amor e cuidou de cada ferimento físico ou emocional que você já teve.
Há algumas semanas, o papa Francisco disse algo que trouxe de volta toda a culpa que senti ao colocar minha mãe em um asilo. Em uma missa especial para homenagear avós, ele afirmou que uma sociedade que não cuida de seus idosos 'não tem futuro'.
Ele alertou contra a cultura 'venenosa' de abandoná-los em asilos, onde "normalmente sofrem com a negligência, o medo e a solidão".
Até 80% das pessoas que vivem em asilos sofrem de Mal de Alzheimer ou alguma outra forma de demência. É uma condição deplorável, pouco compreendida e cruel pela qual vi meus dois pais passarem.
Nunca esquecerei do dia que deixei minha mãe em um asilo - com quase 70 anos, ela era uma das mais jovens entre os que viviam lá. Ainda acordo de noite com a culpa de deixá-la enquanto ela implorava: 'Mas eu sou sua mãe...'.
Nas quatro horas que passei no carro na minha viagem de volta pra casa, meu rosto se inundou de lágrimas. Ainda carrego esta viagem viva na minha memória.
Meu pai havia dito que não podia cuidar dela. Odiei ele por causa disso. O que não sabíamos na época era que ele também já estava no estágio inicial do Alzheimer.
Apresentadora Fiona Phillips / Crédito: BBC
Fiona Phillips virou Embaixadora do Alzheimer
Minha mãe tinha três filhos. Ainda assim, nenhum a levou para morar com eles. Nenhum de nós deu a ela o mesmo cuidado amoroso que ela havia dado a nós. É este pensamento que ainda continuo a remoer em minha cabeça. É este pensamento que ainda me leva às lágrimas quando ouço uma das músicas do Elvis que ela mais gostava.
Mas, como sua doença exigia que alguém cuidasse dela noite e dia, não via como podia cuidar dela e do meu filho de 3 anos e manter meu emprego na TV, que exigia levantar às 3h30 da madrugada, muitas vezes sem ter dormido à noite.
Em algumas noites, minha mãe me ligava a cada hora chorando e dizendo que não se lembrava mais como assar bolos. Sentia-me esgotada mentalmente e fisicamente e que não podia mais aguentar tudo aquilo.
Penso com frequência no dia em que tomei a decisão. Minha mãe estava no hospital depois de ter quebrado a bacia - algo comum em pacientes com demência, já que eles costumam perder seu equilíbrio.
Depois de visitá-la, meu pai, que estava se comportando de forma cada vez mais estranha, anunciou de repente: 'Não quero mais ela em casa. Não posso cuidar dela'.
Foi algo que, na época, considerei completamente insensível e cruel, sem saber que o Alzheimer estava também mudando aos poucos sua personalidade.
Meu irmão David, meu pai e eu fomos a um bar onde eu e David revimos a decisão várias vezes, enquanto listávamos uma série de asilos para visitar. Na época, em 2002, descobrimos que nenhum deles oferecia cuidados especiais para demência.
Depois de muitas visitas deprimentes, escolhemos um asilo onde uma das moradoras disse que amava morar ali, apesar de hoje eu lembrar que ela também disse: 'Mas é muito difícil conseguir um drink se você quer um'.
Minha mãe foi internada com desidratação por diversas vezes durante o período que ficou no asilo. Minha culpa e o meu coração partido me fizeram dirigir para o País de Gales todos os fins d semana para ver minha mãe – que antes, estava sempre glamurosa – sentada em uma cadeira, de cabeça baixa (o sorriso tinha sumido), usando roupas de outras pessoas, com as unhas suja, o cabelo também. A aparência de uma instituição. Não de uma casa. Aquela aparência vai sempre me atormentar.
Atualmente, existem mais lares e asilos especializados em cuidar de pessoas com demência, mas, conforme a Comissão de Qualidade de Lares atestou em relatório divulgado nesta semana, ainda há mais lugares ruins do que bons.
Minha mãe já havia morrido quando ficou claro para mim que meu pai não podia mais viver sozinho. Eu descobri isso quando cheguei na porta da casa dele de surpresa e constatei que ele estava vivendo como um mendigo por meses. Foi a primeira vez que ele abriu a porta para mim em meses que tentei fazer visitas que se mostraram inúteis depois de dirigir centenas de quilômetros.
Desta vez, ele chorou quando me viu, como se estivesse se sentindo aliviado por alguém ter desmascarado sua situação. Ele estava vivendo em um colchão sujo no chão, cercado por uma bagunça, pilhas de pratos na pia e um monte de bilhetes distribuídos pela casa para ajudar sua já tão falha memória.
Eu decidi ali naquele momento que eu teria que mudá-lo para um lugar mais perto de mim. Ele morreu quatro anos depois após um fim terrível em um hospital psiquiátrico, outra coisa que me faz carregar mais toneladas de culpa.
Felizmente, no entanto, nos anos anteriores de sua morte ele viveu feliz em um flat controlado, com enfermeiros cuidando dele três vezes ao dia e também com visitas frequentes minhas e do seu irmão, que também morava perto. Não era o ideal, mas colocar um pai em qualquer tipo de asilo também raramente é.
'Quantas vezes nós descartamos pessoas mais velhas com atitudes que são semelhantes a uma forma de eutanásia oculta', disse o papa Francisco. Minha mãe sequer estava velha. Mas eu ainda sinto como se a tivesse descartado. Vou viver com isso até o fim dos meus dias."
Fiona Phillips apresentou o GMTV por 11 anos na ITV e é uma embaixadora da Sociedade do Alzheimer. Ela deu seu relato para o programa 'Inside Out', na BBC One North East & Cumbria.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141020_pais_demencia_asilo_relato_rb

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Cinco alimentos que fortalecem o sistema imunológico

Você sofre de resfriados e gripes com mais freqüência do que gostaria? Existe uma maneira de evitá-los sem recorrer a remédios ou vitaminas extras.

Uma mudança na alimentação pode ser suficiente para acabar com os resfriados recorrentes. Alguns alimentos fortalecem a defesa do organismo para combater doenças e vencer a batalha contra bactérias e vírus.
"Uma dieta equilibrada que inclua legumes, frutas e outros produtos naturais é a melhor maneira de fornecer ao sistema imunológico vitaminas e minerais que vão fortalecê-lo", disse à BBC Emma Williams, da Fundação Britânica de Nutrição.
Aqui está uma lista de cinco alimentos que ajudam a combater os invasores do corpo.

Moluscos

Molusco (Thinkstock)
Moluscos contêm zinco, componente essencial do sistema imunológico celular
Esses animais marinhos, entre eles mariscos, ostras e lulas, contêm zinco, um componente essencial do sistema imunológico celular.
De acordo com um artigo na Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no corpo humano, quando há uma deficiência deste elemento, as células de defesa (ou linfócitos), que coordenam a resposta imune celular, não funcionam de forma adequada.
No entanto, é importante ter em mente que o excesso dessa substância pode inibir o mecanismo de defesa do organismo contra a doença.
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS, na sigla em Inglês), a quantidade diária recomendada de zinco para as mulheres é entre 4 e 7 miligramas e para homens é entre 5 e 9 mg.

Iogurte

Iogurte (Thinkstock)
Produtos lácteos fermentados têm "bactérias boas"
Assim como outros produtos lácteos e fermentados, esse alimento tem probióticos, também conhecidos como "bactérias boas".
São microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, são capazes de regular a resposta do sistema imunológico, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, por sua sigla em Inglês).
De acordo com um artigo da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, os probióticos têm vários benefícios para os seres humanos, incluindo a prevenção de gripes e resfriados, além de diminuir a gravidade dos sintomas, caso a doença não possa ser completamente evitada.
Ainda segundo o mesmo documento, as "bactérias boas" também ajudam a prevenir infecções vaginais, do trato urinário e também a acelerar a recuperação de certas infecções intestinais, como a síndrome do intestino irritável.

Alho

Alho (Thinkstock)
O alho tem propriedades capazes de combater infecções e vírus
Em testes laboratoriais, os investigadores descobriram que o alho tem propriedades que permitem combater a infecção, as bactérias, vírus e fungos.
Embora mais estudos sejam necessários para determinar os benefícios específicos dessa planta em humanos, uma pesquisa feita nos países do sul da Europa encontrou uma ligação entre a freqüência de consumo de alho e cebola e uma redução do risco do desenvolvimento de certos tipos câncer.
De acordo com a WebMD, um site americano com informações relacionadas a saúde, o alho tem uma variedade de antioxidantes que ataca os "invasores" do sistema imunológico. "Um de seus alvos é a Helicobacter pylori, uma bactéria associada com algumas úlceras e câncer de estômago."

Cereais

Cereais (Thinkstock)
A vitamina B6 é encontrada em cereais como o trigo e a aveia
Vários estudos científicos sugerem que a deficiência de vitamina B6 - encontrada na aveia, no germe de trigo e de arroz - diminui a resposta do sistema imunológico.
Um exemplo disso, de acordo com um artigo na Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, nos EUA, é a capacidade das células de amadurecerem e se transformarem em vários tipos de linfócitos.
Quantidades moderadas de cereais para complementar o nível de deficiência de vitamina B6 restaura o funcionamento do sistema imunológico.
"Grãos (carne, peixe, nozes, queijo e ovos) também têm selênio, que também beneficia o sistema imunológico, diminui as doenças infecciosas em idosos e ajuda na recuperação de crianças com infecções do trato respiratório", Williams explica.

Frutas cítricas

Laranja (Thinkstock)
A vitamina C pode ajudar com que a gripe seja mais rápida e menos grave
De acordo com um artigo da National Library of Medicine, os resfriados de pessoas que consomem regularmente a vitamina C, presente em frutas cítricas, podem durar menos tempo e os seus sintomas nesses casos são geralmente menos graves.
"Em adultos, a duração é reduzida em 8% e em crianças por 13,6%. Estudos têm mostrado que, em pessoas que fazem exercício físico nos meses de inverno ficando exposto ao frio extremo, o consumo de vitamina C reduziu pela metade a chance de ficar resfriado ", acrescenta Williams.
Deve-se considerar, no entanto, que, uma vez que já se tem a doença, as frutas cítricas não têm efeitos terapêuticos.
A vitamina C é importante para a formação da proteína usada na pele, tendões, ligamentos e vasos sanguíneos.

Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/10/141019_cinco_alimentos_sistema_imunologico_rm