sexta-feira, 8 de junho de 2018

'Abortar é matar', diz mãe de grávida morta em clínica clandestina de aborto

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Foto de Jandira em celular
Direito de imagemANA TERRA ATHAYDE/BBC
Image captionJandira dos Santos Cruz morreu durante procedimento de aborto. A mãe ainda sofre com a saudade, mas mantém a opinião de que o aborto não deve ser legalizado. 'Abortar é o mesmo que matar', diz
Quase quatro anos depois da morte da filha, uma cena se repete nas memórias de Maria Ângela dos Santos. Era manhã do dia 26 de agosto de 2014, e Jandira Magdalena dos Santos Cruz estava sentada na beirada da cama das filhas.
"Ela ficou sentada na beira da cama das meninas, olhando para as meninas. Eu perguntei: 'O que você está fazendo?'. E ela: 'Nada, estou esperando o Leandro'. Mas eu vi um semblante triste nela. E me deu um aperto no coração, uma coisa estranha que eu não sei explicar. Que eu não ia vê-la, sabe?", contou emocionada, em entrevista à BBC Brasil.
Poucos minutos depois, a jovem de 27 anos sairia de casa em direção a uma clínica de aborto clandestina em Campo Grande (MS). Não voltaria mais para casa. O corpo só foi encontrado quase um mês depois, carbonizado.
A polícia chegou à conclusão de que ela morreu durante o procedimento de aborto. A quadrilha que operava a clínica, formada, entre outros, por um falso médico e uma enfermeira, teria incinerado o corpo, para esconder o crime.
A BBC Brasil esteve na casa da mãe de Jandira, em Campo Grande. Ela preserva intactas as memórias e o amor pela filha, mas também a opinião de que aborto deve continuar a ser crime no Brasil. "Não há diferença entre matar um filho de 13 anos e o que tá dentro da tua barriga", diz.
A casa de Maria Ângela é movimentada por um entra e sai de crianças e adolescentes: são os netos. Dois deles são filhas de Jandira. Elas passaram a ser criadas pela avó quando a mãe morreu.
Maria Ângela guarda vários álbuns de foto da filha que morreu: da festa de 15 anos, da primeira gravidez, do casamento. Jandira teve o primeiro bebê bem jovem, com 14 anos. Alguns anos depois, teve a segunda filha e se casou com o pai dela, aos 17 anos.
Mas o casamento não durou, embora, segundo Maria Ângela, Jandira fosse apaixonada pelo marido. A terceira gravidez veio de um relacionamento passageiro. Quando descobriu a gravidez, Jandira tentava reatar com o ex-marido.
Jandira
Image captionJandira já tinha duas filhas quando descobriu que estava grávida | Fonte: Arquivo Pessoal

Depressão

"Ela estava muito mal. Do dia em que ela soube que estava grávida ela já veio nesse processo de ficar mal, de chorar, de não comer. Ela era vaidosa, gostava de pintar o cabelo, pintar a unha", contou Maria Ângela.
Jandira não contou à mãe, de imediato, sobre a gravidez. Sabia que ela seria contra um aborto.
"Eu fiquei apavorada. Eu não sabia o que que era. No final que eu fui saber por que ela estava daquele jeito. Uma colega dela que trabalhava com ela dizia: 'Jandira não trabalha mais, ela só chora'", relata.
Quando a jovem revelou que pretendia interromper a gravidez, a mãe tentou evitar e chegou a ameaçar não ter mais contato com a filha, se ela fizesse o aborto.
"Eu falei: 'não quero que você faça. Você não tem necessidade disso'. Ela me colocou várias desculpas que nunca justificaram em nada, para mim, o que ela fez", diz.
"E eu falei com ela: 'Se você fizer isso, você me esquece, não quero mais saber de você'. Eu não ia fazer isso, lógico, mas falei isso para ver se ela desistia."

A morte

JandiraDireito de imagemANA TERRA ATHAYDE/BBC
Image caption'Ela dizia para mim que ela já tinha dois (filhos) e que ela não tinha mais estrutura para ter mais um filho', conta Maria Ângela
Mas Jandira estava decidida. "Ela dizia para mim que ela já tinha dois (filhos) e que ela não tinha mais estrutura para ter mais um filho."
No dia que Jandira saiu para ir à clínica, Maria Ângela aguardou ansiosa pelo retorno da filha. As horas se passaram e ela não voltou. Também não atendia o celular. De noite, o ex-marido da jovem foi até a casa de Maria Ângela e contou que uma mulher buscou Jandira para leva-la à clínica.
Ele contou que não conseguia mais contato com a ex-esposa e que não sabia onde ela poderia estar. Após 24 horas do desaparecimento, a família registrou o desaparecimento à polícia. O caso chegou aos jornais e a procura por Jandira passou a ser acompanhada por brasileiros de todo o país.
Mas o resultado não poderia ser mais desolador. O corpo dela foi encontrado carbonizado quase um mês depois. Exames de DNA comprovaram que era o de Jandira.
"A gente nem teve como enterrar. Eu enterrei um pedaço de osso", lamenta Maria Ângela. Dez pessoas que trabalhavam na clínica ou prestavam serviços foram indiciados. Os chefes da clínica clandestina estão presos.

'Sou contra o aborto'

Maria Ângela dos SantosDireito de imagemANA TERRA ATHAYDE/BBC
Image caption'Não há diferença entre matar um de 13 anos e o que tá dentro da tua barriga', opina Maria Ângela, que é contra descriminalizar o aborto
Os principais administradores da clínica clandestina onde Jandira morreu estão presos. Maria Ângela defende punição severa a eles. E diz que não é favorável à descriminalização do aborto, ainda que isso pudesse significar procedimentos mais seguros.
Evangélica, ela defende que é preciso "proteger a vida do bebê".
"Sou totalmente contra. Se tivesse que ter um voto e dependesse de mim. Se meu voto fosse o único que faltasse para legalizar. Eu não votaria. Mesmo que nessa levada a minha filha pudesse ser salva, porque teria um método melhor, num hospital", afirma.
"Eu continuo pensando da mesma forma. Não acho isso certo. A mulher sairia ilesa, mas e a criança? Ali bate um coração."
Embora o aborto só seja permitido em casos de estupro, risco de vida para a mãe e feto com anencefalia, a Pesquisa Nacional do Aborto, da Universidade de Brasília, estima que uma em cada 4 mulheres de até 40 anos já interrompeu a gravidez.
A cada ano, são feitos 500 mil abortos clandestinos. Quase metade dessas mulheres teve que ser hospitalizada após os procedimentos, conforme o estudo.
O Ministério da Saúde estima que 4 mulheres morrem a cada dia por complicações decorrentes de abortos clandestinos.

Fonte https://www.bbc.com/portuguese/brasil-44243988

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Maioria das deputadas se diz contra projeto de Cunha sobre aborto

18/11/2015 13h41 - Atualizado em 18/11/2015 14h31

Projeto do presidente da Câmara dificulta aborto legal e motiva protestos.
Levantamento do G1 indica que 27 das 50 deputadas são contra e 4 a favor.


Laís AlegrettiDo G1, em Brasília
Levantamento do G1 sobre posição de deputadas em relação a projeto de Eduardo Cunha que dificulta o aborto legal (Foto: Editoria de Arte / G1)
Levantamento do G1 realizado entre o dia 9 e a última segunda-feira (16) indica que a maioria da bancada feminina da Câmara é contra o projeto de autoria do presidente da Casa, deputadoEduardo Cunha (PMDB-RJ), que dificulta o aborto legal em caso de estupro.
Das 50 deputadas em exercício na Câmara (que, no total, tem 513 parlamentares), 27 (54%) se declararam contra o projeto; 4, a favor; 12 preferiram não se posicionar; e 7, embora procuradas, não responderam.
Desde que foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, no fim de outubro, o projeto é alvo de manifestações de protesto em várias capitais.
O texto torna crime induzir ou auxiliar uma gestante a abortar. Um trecho incluído no projeto pela CCJ exige que a mulher vítima de estupro que deseje realizar um aborto legal comprove a violência por meio de comunicação à polícia e exame de corpo de delito – atualmente, basta a palavra da gestante.
Após a aprovação na CCJ, a matéria depende de votação no plenário da Câmara, o que ainda não tem data para acontecer. Se aprovada na Câmara, vai para o Senado, onde, segundo apurou o G1, nenhuma das 12 senadoras se manifesta a favor – dez se declararam contrárias e duas preferiram não opinar. Somente se aprovado no Senado, o projeto é enviado para sanção ou veto da presidente Dilma Rousseff.
Embora as mulheres representem mais de metade da população brasileira (51%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), a participação feminina no parlamento não chega a 15%. Na Câmara, 50 mulheres ocupam menos de 10% das 513 cadeiras da casa. No Senado, são 12 mulheres – menos de 15% das 81 vagas.
Manifestantes estanderam uma grande bandeira nas escadarias da Alerj para protestar contra Eduardo Cunha (Foto: Daniel Silveira/ G1)No Rio, manifestantes estendem bandeira para protestar contra o projeto de Cunha (Foto: Daniel Silveira/ G1)
Pergunta
A equipe do G1 procurou todas as senadoras e as deputadas – diretamente ou por meio das assessorias de imprensa – e fez o seguinte questionamento:
A senhora é a favor ou contra o projeto de lei que estabelece que a vítima de estupro, se desejar realizar um aborto legal, tem de comprovar que houve o estupro com boletim de ocorrência e exame de corpo de delito?
Deputadas contra o projeto
A maioria das deputadas que é contra o projeto argumentou que a mulher vítima de estupro é exposta a mais uma dificuldade ao ser obrigada a comprovar que a violência ocorreu.
Uma das 27 deputadas que criticou a proposta, Luiza Erundina (PSB-SP) afirmou que o projeto é “medieval” e “injusto”.
É uma violência do Estado com a mulher que já foi vítima de um estupro. Submeter a vítima a um exame de corpo de delito e a um boletim de ocorrência é humilhante."
Deputada Luiza Erundina (PSB-SP)
"É uma violência do Estado com a mulher que já foi vítima de um estupro. Submeter a vítima a um exame de corpo de delito e a um boletim de ocorrência é humilhante", disse.
Para a deputada Érika Kokay (PT-DF), o projeto desrespeita os direitos da mulher. “Esse projeto menospreza a palavra da mulher, é sexista, machista, subalterniza e desumaniza as mulheres”, criticou.
A deputada Professora Dorinha Seabra (DEM-TO) disse que, se aprovado, o projeto vai dificultar o atendimento às mulheres vítimas de violência.
“Nem todas as cidades têm serviço de perícia. O texto tem requintes de crueldade no sentido de impedir o profissional de saúde de orientar. O projeto não vai ajudar e nem reduzir índices de aborto. Quem quiser fazer aborto criminoso, vai continuar fazendo”, opinou.
Deputadas a favor
Quatro parlamentares declararam apoio ao texto. A deputada Gorete Pereira (PR-CE) disse que é “incondicionalmente” contra o aborto e afirmou que a melhor opção é dificultar essa possibilidade.
“Eu sou muito resolvida com relação a isso. Sou a favor disso [do projeto], o melhor é dificultar [o aborto] em todos os sentidos”, declarou.
Se as mulheres vítimas de estupro que quiserem abortar precisarem fazer um boletim de ocorrência, mais denúncias serão feitas. Assim, conseguiremos punir mais homens que praticam o estupro."
Deputada Shéridan (PSDB-RR)
Também se disse favorável ao projeto a deputada Renata Abreu (PTN-SP). Ela, entretanto, disse que apoia a mudança desde que com a  “humanização” do boletim de ocorrência e a criação de uma central única de atendimento às vítimas que se desloque até a mulher, a fim de evitar constrangimentos.
"Cada delegacia deve ter uma unidade de atendimento para vítimas de estupro e essa unidade, formada por mulheres, deve ir até a vítima", disse.
A deputada Shéridan (PSDB-RR), também favorável à proposta, argumentou que a falta de denúncias fortalece a prática do estupro.
“Se as mulheres vítimas de estupro que quiserem abortar precisarem fazer um boletim de ocorrência, mais denúncias serão feitas. Assim, conseguiremos punir mais homens que praticam o estupro”, declarou.
A posição de cada deputada
Confira abaixo como se posicionou cada uma das deputadas consultadas pelo G1:
A favor: Dulce Miranda (PMDB-TO); Gorete Pereira (PR-CE); Renata Abreu (PTN-SP); Shéridan (PSDB-RR)
Contra: Alice Portugal (PCdoB-BA); Ana Perugini (PT-SP); Benedita da Silva (PT-RJ); Carmen Zanotto (PPS-SC); Christiane de Souza Yared (PTN-PR); Conceição Sampaio (PP-AM); Cristiane Brasil (PTB-RJ); Elcione Barbalho (PMDB-PA); Eliziane Gama (Rede-MA); Érika Kokay (PT-DF); Iracema Portella (PP-PI); Jandira Feghali (PCdoB-RJ);Janete Capiberibe (PSB-AP); Jéssica Sales (PMDB-AC); Jô Morais (PCdoB-MG); Luciana Santos (PCdoB-PE); Luiza Erundina (PSB-SP); Luizianne Lins (PT-CE); Mara Gabrilli (PSDB-SP); Margarida Salomão (PT-MG); Maria do Rosário (PT-RS); Maria Helena (PSB-RR); Mariana Carvalho (PSDB-RO); Moema Gramacho (PT-BA); Professora Dorinha Seabra (DEM-TO); Professora Marcivania (PT-AP); Tereza Cristina (PSB-MS)
Preferiram não se se posicionar: Brunny (PTC-MG); Clarissa Garotinho (PR-RJ); Dâmina Pereira (PMN-MG); Geovania de Sá (PSDB-SC); Jozi Rocha (PTB-AP); Josi Nunes (PMDB-TO); Keiko Ota (PSB-SP); Leandre (PV-PR); Raquel Muniz (PSC-MG); Soraya Santos (PMDB-RJ); Tia Eron (PRB-BA); Zenaide Maia (PR-RN)
Não responderam: Bruna Furlan (PSDB-SP), Flávia Morais (PDT-GO), Júlia Marinho (PSC-PA), Magda Mofatto (PR-GO), Marinha Raupp (PMDB-RO), Rosangela Gomes (PRB-RJ) e Simone Morgado (PMDB-PA).
Os argumentos de Cunha
No último dia 3, o autor do projeto, Eduardo Cunha, afirmou que limitar o aborto em caso de estupro é a vontade dos eleitores dele.
“A minha representação, pela qual fui eleito, pensa daquele jeito, o que significa que eu posso compor projetos desse jeito”, justificou Cunha sobre o mérito do projeto de lei.
Na ocasião, ele ponderou que há vários projetos de sua autoria tramitando na Casa, mas que não atua para que sejam aprovados. O presidente da Câmara declarou ainda que só colocará a proposta em votação se houver um pedido dos líderes dos partidos na Câmara.
Senado
As senadoras que criticaram o projeto argumentaram que o texto coloca a vítima de violência sexual em uma situação ainda mais difícil, ao exigir comprovação do estupro.
A senadora Angela Portela disse que, apesar de não ser a favor do aborto, entende que, nas situações previstas em lei, o estado “não pode deixar desamparada uma mulher que já está vivendo uma situação desesperadora, como é o caso do estupro”. Para ela, o texto também protege o agressor. “Esse projeto tem [...] uma terrível consequência: ao penalizar a mulher, facilita a impunidade do agressor”, complementou.
A senadora Marta Suplicy disse que o projeto é um “retrocesso gigantesco” em relação às conquistas femininas. “A mulher hoje tem sua palavra valorizada. Perderemos isso”, resumiu.
Para a senadora Simone Tebet, contrária ao texto, o projeto não passa no Senado. "Você não pode vitimizar ainda mais a mulher vítima da violência sexual, exigindo que ela vá a uma delegacia que hoje, na maioria dos municípios, não tem nem mesmo delegadas mulheres, para fazer uma denúncia na frente de um delegado. Ela está fragilizada, amedrontada."
As dez senadoras que se manifestaram contra o projeto são Ana Amélia (PP-RS); Angela Portela (PT-RR); Gleisi Hofmmann (PT-PR); Fatima Bezerra (PT-RN); Lídice da Mata (PSB-BA); Lúcia Vania (PSB-GO); Marta Suplicy (PMDB-SP); Regina Sousa (PT-PI); Simone Tebet (PMDB-MS); Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). As que preferiram não se posicionar são Rose de Freitas (PMDB-ES) e Sandra Braga (PMDB-AM).
Sentido Consolação da Avenida Paulista foi bloqueado por manifestação (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)Em SP, manifestantes bloqueiam Avenida Paulista contra projeto de Cunha (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Protestos
Nas últimas semanas, manifestantes ocuparam as ruas em diversas capitais brasileiras para protestar contra o projeto – cujo número “5069” ficou conhecido devido à polêmica em torno do assunto.
Na última quinta (12), manifestantes em defesa dos direitos da mulher fizeram um protesto na Avenida Paulista, em São Paulo, contra o projeto.
No Rio de Janeiro, no mesmo dia, manifestantes se uniram no centro da cidade para um protesto que teve como foco principal as propostas de Cunha contrárias aos direitos da mulher.
Na sexta-feira (13), em Brasília, houve um protesto contra Cunha e em defesa da legalização do aborto, no Eixo Monumental. As mulheres também protestaram em Curitiba.


Fonte http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/11/maioria-das-deputadas-se-diz-contra-projeto-de-cunha-sobre-aborto.html

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Sentença de 20 anos por feticídio reacende debate sobre aborto nos EUA

Alessandra CorrêaDe Winston-Salem (EUA) para a BBC Brasil

Caso de Purvi Patel tem despertado temores sobre a criminalização de gestantes que interrompem a gravidez

A condenação de uma mulher a 20 anos de prisão pelo crime de "feticídio" reacendeu o debate sobre aborto nos Estados Unidos e tem provocado temores sobre a criminalização de gestantes que interrompem a gravidez.

O caso de Purvi Patel, de 33 anos, é o primeiro no país em que uma mulher é acusada, condenada e sentenciada por "feticídio" após a interrupção da própria gravidez, segundo a National Advocates for Pregnant Women (NAPW), organização nacional de defesa dos direitos da mulher e de grávidas, com sede em Nova York.

Em julho de 2013, Patel foi a um hospital no Estado de Indiana, onde vive, após um aborto em casa. O médico que a atendeu chamou a polícia – seguindo a obrigação legal de reportar casos em que há suspeita de abuso de menores.

A mulher contou aos investigadores que sofreu um aborto espontâneo e, em choque e sem saber o que fazer, jogou o feto no lixo. Disse ainda que só havia descoberto que estava grávida três semanas antes, acreditava estar com dois meses de gestação e queria esconder a gravidez e o aborto de seus pais, que são de origem indiana e, segundo ela, muito religiosos e conservadores.

Apesar de Patel dizer que o bebê morreu em um aborto espontâneo, investigadores usaram mensagens de seu celular como evidência de que ela tomou remédios ilegais para abortar. O médico que examinou o feto já o encontrou morto e estimou que tivesse em torno de 30 semanas.

Os promotores argumentaram que o feto teria nascido vivo e poderia ter sobrevivido. Em fevereiro, um júri condenou Patel pelos crimes de negligência infantil e de feticídio. A sentença foi anunciada nesta segunda-feira, e a defesa pretende apelar da decisão.

Polêmica

A lei de Indiana que trata de "feticídio" proíbe que alguém "interrompa uma gravidez intencionalmente com qualquer intenção que não seja a de produzir um nascimento ou remover um feto morto".

O aborto é legal nos EUA, e essa lei não se aplica a abortos feitos em clínicas. Patel foi condenada porque, segundo a acusação, em vez de ter recorrido a uma clínica, teria tomado remédios ilegais para induzir o aborto.

Esta não é a primeira vez que uma mulher foi acusada de "feticídio" em Indiana. Em 2011, uma imigrante chinesa que tentou cometer suicídio aos oito meses de gestação foi indiciada no Estado pelo mesmo crime, mas o caso não chegou a ir a julgamento.

Pelo menos 38 Estados americanos têm leis que criminalizam o "feticídio", e em 23 deles a legislação se aplica a qualquer estágio de gestação, mesmo os mais iniciais.

Purvi Patel é levada presa após ser condenada a 20 anos de prisão
Pelo menos 42 Estados americanos proíbem abortos após determinado período de gestação


O objetivo oficial dessas leis é evitar que mulheres grávidas sejam vítimas de crimes e atos de violência ou de clínicas de aborto ilegais e sem estrutura.

Recentemente, o caso de uma grávida que foi esfaqueada e teve o feto retirado de seu ventre por outra mulher, no Colorado, provocou muitas reações em favor de leis sobre feticídio, principalmente por parte de grupos antiaborto. No episódio, a mãe sobreviveu ao ataque, mas o bebê morreu.

No entanto, críticos afirmam que essas leis têm sido frequentemente usadas para restringir o direito de mulheres ao aborto – garantido pela Suprema Corte dos EUA em 1973.

"Infelizmente, não nos surpreende ver uma lei que tem o objetivo de proteger mulheres grávidas sendo usada contra as próprias mulheres grávidas", disse à BBC Brasil uma das diretora da NAPW, Sarah Ainsworth.

Riscos

Segundo ela, medidas como essa podem fazer com que menos mulheres busquem cuidados médicos após um aborto, seja espontâneo ou intencional.

No início deste ano, em São Paulo, o caso de um médico que chamou a polícia após tratar de uma jovem que havia abortado provocou polêmica e críticas de que o profissional havia violado o sigilo médico.

"(O que ocorre nos EUA) não é diferente do que ocorre em países onde o aborto é proibido, como o Brasil. Mas é perturbador ver isso em um país onde o aborto continua sendo legal, apesar de ser cada vez mais difícil, diante de todas as restrições impostas por vários Estados", afirma Ainsworth.
Pelo menos 42 Estados americanos proíbem abortos após determinado período de gestação, e 26 obrigam mulheres que buscam abortos a esperar pelo menos 24 horas antes de realizar o procedimento.

Muitos Estados também restringem a realização de abortos em menores de idade, exigindo consentimento dos pais. Há ainda leis estaduais que restringem a cobertura de abortos por planos de saúde e outros que permitem que instituições se recusem a realizar abortos, seja por motivos religiosos ou outros.

Segundo Ainsworth, apesar de não haver estimativas oficiais, é crescente o número de mulheres nos EUA que recorrem à compra de remédios ilegais na internet para provocar abortos em casa, diante de tantas restrições.

Ela também vê riscos de que a medida em Indiana abra caminho para a criminalização de determinados comportamentos de mulheres grávidas, como excesso ou falta de exercício, beber ou fumar durante a gestação. "Não há limites para as circunstâncias em que poderá ser usado o mesmo argumento", afirma.



Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/04/150401_feticidio_eua_pai_ac

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Multidão reunida na marcha em favor da vida


Caminhada, na Avenida Beira-Mar, teve como motes a aprovação do Estatuto do Nascituro e o combate ao aborto

Na luta contra a legalização do aborto, uma multidão se reuniu, na tarde deste domingo, na Avenida Beira-Mar, para mais uma edição da Marcha pela Vida Contra o Aborto, promovida pelo Movimento em Favor da Vida (Movida). A iniciativa ainda conta com o apoio de entidades como a Câmara Municipal de Fortaleza, Associação Estação da Luz e Comitê Cearense da Cidadania Pela Vida - Brasil Sem Aborto.

A Marcha Pela Vida Contra o Aborto contou com a participação de ativistas em defesa da conservação dos direitos humanos desde a concepção do nascituro. Entre a multidão, gestantes pintaram as barrigas com mensagens positivas fotos: Alex costa

Em 2013, o movimento tem como tema o "Estatuto do Nascituro", projeto que tramita na Câmara dos Deputados há seis anos e cujo objetivo é garantir a proteção à vida do ser humano desde a concepção, antes mesmo do nascimento.

Mais proteção

"Lutamos para que haja mais esse meio de proteção às vidas da mulher e da criança. O Estatuto do Nascituro vem reforçar os direitos que nós já temos desde a concepção, proclamados pela Constituição Federal, pelo direito civil e pelos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. Defender o estatuto é, consequentemente, uma forma de combater a prática do aborto", pontua Marília Bitencourt Campos Calou, coordenadora institucional do Movida.

A caminhada foi animada pela presença da cantora baiana Márcia Porto e do cearense Chico Pessoa, que apresentaram algumas canções durante o percurso. "Eu faço parte desse projeto porque é um direito de todos. A vida deve ser conservada acima de tudo. Quando nos manifestamos contra o aborto, estamos defendendo a vida", coloca Chico Pessoa.

Barrigas pintadas

Um grupo de mulheres grávidas, pertencentes à Associação Maria Mãe da Vida, organização do Pirambu que apoia jovens mulheres em situação de risco, exibia mensagens e desenhos de incentivo à proteção dos bebês pintadas em suas próprias barrigas, num apelo pela conservação da vida.

"Ninguém pode dizer que uma vida não deve mais ter os seus direitos. A Marcha pela Vida tem a ver com a sociedade que nós queremos ter. Uma sociedade que admite a morte de crianças indefesas, ainda na barriga da mãe precisa rever seus próprios princípios éticos", conclui Marília Bitencourt. Durante o evento também foram recolhidas assinaturas dos presentes para um abaixoassinado em favor da legalização do Estatuto do Nascituro.

RANNIERY MELO
REPÓRTER

ENQUETE

Qual a importância da marcha?

"Cada vida é importante. Já soube de casos próximos de aborto em que as mães se arrependeram depois, por isso sou totalmente contra. Estou grávida do meu segundo filho, por isso vejo a necessidade de lutar pela vida"

Evelândia da Silva
Diarista

"Sou católica, mas, não só de acordo com a minha religião, eu percebo racionalmente que a vida acontece desde a concepção. Estamos aqui para relembrar às autoridades que o Brasil, em sua maioria, é contra o aborto"

Letícia Alves
Estudante universitária

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

“Aborto só vai a votação se passar pelo meu cadáver”, diz Cunha

LUCIANA NUNES LEAL
09 Fevereiro 2015 | 05:00


Presidente da Câmara afirma que legalização do aborto e direitos dos homossexuais “não são a agenda do País”, rejeita regulação da mídia e critica a articulação política do governo

O deputado está decidido sobre o que quer votar e também sobre os temas que não aceita levar ao plenário, como a legalização do aborto, a união civil de pessoas do mesmo sexo e a regulação da mídia. “Aborto e regulação da mídia só serão votados passando por cima do meu cadáver”, diz, irredutível, o deputado evangélico de 56 anos, fiel da Igreja Sara Nossa Terra. Diante da reação negativa de militantes de movimentos em defesa dos direitos dos homossexuais à sua eleição, Cunha não faz concessões. “Não tenho que ser bonzinho. Eles querem que esta seja a agenda do País, mas não é”.




Os movimentos de defesa dos homossexuais, de defesa dos direitos humanos e das mulheres temem que o senhor não dê andamento a projeto de interesse dessas categorias. Como o senhor vai agir?

Que projetos?



Há vários projetos de garantias de direitos dos homossexuais, de legalização do aborto.

Isso é mais discurso. Para pautar um projeto, ele tem que ter apoio suficiente. Não tenho que ser bonzinho. Eles querem que isso seja a agenda do País, mas não é. Não tem um projeto deles na pauta para ir a votação. Tenho que me preocupar com o que a sociedade está pedindo e não é isso.



O senhor tem uma posição pessoal contra o casamento gay, a legalização aborto. Isso vai interferir na condução dessas matérias?

Aborto eu não vou pautar (para votação) nem que a vaca tussa. Vai ter que passar por cima do meu cadáver para votar. Aborto e regulação de mídia, só passando por cima do meu cadáver. O último projeto de aborto eu derrubei na Comissão de Constituição e Justiça. Regulação econômica de mídia já existe. Você não pode ter mais de cinco geradoras de televisão. No aborto, sou radical.



Mas o aborto não é um tema para o Congresso discutir?

Por quê? Quem está pedindo para ser discutido?



O Congresso representa a sociedade e parte dela quer discutir a legalização do aborto.

Qual é a parte do Congresso que está pedindo? Isso é uma minoria.



Fonte e integra: http://brasil.estadao.com.br/blogs/estadao-rio/aborto-so-vai-a-votacao-se-passar-pelo-meu-cadaver-diz-cunha/

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Estudo liga remédios para insônia e rinite a maior risco de demência

Michelle Roberts

Editora de Saúde do site da BBC

Thinkstock

Segundo estudo, uso diário por três anos ou mais de certos remédios por pessoas mais velhas aumentaria risco de demência
Um estudo ligou medicamentos usados regularmente, incluindo remédios contra insônia, depressão e rinite alérgica, à demência.

Pesquisadores da Universidade de Washington acompanharam a saúde de 3.434 pessoas com 65 anos ou mais que não tinham sinais de demência no início do estudo.

Eles observaram registros médicos e de medicamentos para determinar quantos tinham ingerido remédios com o efeito anticolinérgico, quais as doses e quantas vezes. Então, compararam esses dados com diagnósticos subsequentes de demência nos 10 anos seguintes.

O estudo, divulgado na publicação científica Jama Internal Medicine, apontou que doses mais elevadas e o uso prolongado destes medicamentos estavam ligados a um risco maior de demência em idosos. O perigo aumentava se o consumo fosse diário por três anos ou mais.

Leia mais: Pesquisa associa uso de remédios para dormir e ansiedade à demência

Todos os medicamentos listados têm efeito anticolinérgico, que bloqueiam um neurotransmissor chamado acetilcolina.

Os mais usados foram os antidepressão, tratamentos anti-histamínicos para alergias, como rinite, ou contra a insônia, e para tratamento de incontinência urinária. A maioria dos remédios só é vendida com prescrição médica.

Todo medicamento pode ter efeito colateral, e as bulas destes remédios alertam para a possibilidade de redução da capacidade de atenção e memória, e boca seca. Mas pesquisadores disseram que usuários deveriam estar cientes de que eles podem estar ligados a um risco maior de demência.
O estudo

Ao longo do estudo, 797 dos participantes desenvolveram demência.

O estudo estimou que as pessoas que tomaram pelo menos 10 mg/dia de doxepin (antidepressivo), 4 mg/dia de difenidramina (auxílio para dormir), ou 5 mg/dia de oxibutinina (contra incontinência urinária) por mais de três anos teriam um risco maior de desenvolver demência.

Os pesquisadores disseram que médicos e farmacêuticos poderão adotar uma abordagem preventiva e oferecer tratamentos diferentes como consequência do estudo. E, quando não houver alternativa, poderiam dar a menor dose pelo menor tempo possível.

Alguns dos participantes do estudo concordaram em serem submetidos a uma autópsia após a morte, disse a médica Shelly Gray, que participou do estudo. "Vamos analisar a patologia cerebral e ver se podemos encontrar um mecanismo biológico que pode explicar os nossos resultados".

Simon Ridley, chefe de pesquisa do grupo britânico Alzheimer's Research UK, disse que o estudo é interessante, mas não definitivo, já que, segundo ele, não há evidências de que essas drogas causem demência.

Já Doug Brown, da Sociedade de Alzheimer da Grã-Bretanha, disse: "Há preocupações de que o uso regular de certos medicamentos com efeitos anticolinérgicos, como soníferos e tratamentos de rinite, por pessoas mais velhas pode aumentar o risco de demência em determinadas circunstâncias, o que é apoiado por este estudo".

"No entanto, ainda não está claro se este é o caso, ou se os efeitos observados são resultado do uso a longo prazo ou vários episódios de curto prazo. É necessária uma pesquisa mais robusta para entender quais são os potenciais perigos, e se algumas drogas são mais propensas a terem este efeito do que outras.

"Gostaríamos de incentivar que médicos e farmacêuticos estejam cientes desta potencial ligação e aconselhem qualquer pessoa preocupada a falar com seu médico antes de parar com qualquer medicação".


Fonte http://www.bbc.co.uk/portuguese/institutional/2015/01/150127_saude_demencia_remedios_hb